quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Caminho do Desejo x Caminho da Devoção

Caminho do Desejo x Caminho da Devoção


   Até aqui nós já concluímos que a sociedade ideal é aquela na qual as pessoas são devotadas ao Senhor Supremo. Então, tudo depende de uma revolução na consciência das pessoas. Esse é o primeiro passo. Para mudar o mundo, devemos primeiro, mudar a nós mesmos. Não é uma mudança fácil, pois a luta pelo poder é algo intrínseco à matéria, conforme já vimos. A luta pelo poder é o resultado do desejo. O desejo é o que move a matéria, é o que move o mundo e, portanto, é o que define e molda tudo nesse mundo. Quando eu digo que a história das sociedades é a história da luta pelo poder, estou dizendo que a história das sociedades é a história do desejo. Na verdade, não só das sociedades, mas de todo o Universo, pois toda a matéria é movida pelo desejo. O desejo é o que molda o universo material.
   Nos planos elementares da matéria, nas plantas e nos animais, isso é algo natural. Essa é a natureza. Mas a espécie humana foi dotada de inteligência superior justamente para transcender a essa natureza material. Pois o desejo gera a ansiedade. A ansiedade de se alcançar os objetos do desejo. Mas nem sempre conseguimos alcançar esses objetos, pois estamos em constante competição uns com os outros. Então, da ansiedade vem a frustração. Estamos o tempo todo experimentando ansiedade e frustração. O resultado disso é estresse e depressão, considerados como o mal do século, pois vivemos numa sociedade que prega a competição e o consumo, ou seja, uma sociedade que alimenta o desejo das pessoas, que faz com que as pessoas briguem entre si por esses desejos. O resultado disso é estresse e depressão.
   Da frustração vem a inveja. A pessoa percebe que não consegue saciar seus desejos, o que é impossível, pois a partir do momento que você realiza um desejo, vem outro, e depois outros. A função dos nossos sentidos é sentir. A mente é o processador dos sentidos. Os sentidos sempre vão procurar seus objetos. A saciedade dos sentidos é momentânea, por mais que você experimente algo maravilhoso, você sempre vai querer mais, pois tão logo o sentido cessa o contato com seu objeto sensorial, logo ele precisa de um novo objeto para sentir. Então, a mente nunca fica satisfeita. Até mesmo quando estamos inconscientes nossa mente está desejando. É impossível saciar a mente. Algumas correntes filosóficas ensinam que a pessoa deve tentar esvaziar a mente. Mas esse é um esforço praticamente impossível. Como anular a mente? Como querer que o fogo não queime, ou que a água não seja molhada? A função da mente é pensar, desejar e sentir. Ela faz isso o tempo todo. Lutar contra isso é muito difícil. Por isso devemos manter nossa mente focada no Senhor Supremo. Devemos fixar nossos sentidos em objetos sensoriais que nos remetam ao Senhor Supremo. Devemos ocupar nossa mente com o Senhor Supremo, e assim, experimentar o gosto superior, mantê-la ocupada com algo superior. O Senhor está disponível para todos, e assim, não há como a mente não estar em constante contato com seus objetos sensoriais. Mas do contrário, da frustração vem a inveja.
   Como nossa mente nunca está satisfeita, e como não conseguimos alcançar os objetos desejados, passamos a invejar os outros. A grama do vizinho é sempre mais verde. Todas as pessoas são iguais, todas as pessoas desejam e todas as pessoas são frustradas, mas invejamos os outros. O invejoso não percebe isso. Ele só consegue enxergar seus objetos de desejo no outro, e ele o inveja por isso. Da inveja vem o ódio. O invejoso passa a odiar o outro, pois ele atribui a sua frustração ao suposto sucesso do outro. Aí está a origem da falsa percepção de Karl Marx na sua concepção de luta de classes. Admitir isso é admitir uma sociedade invejosa e cheia de ódio. Essa sociedade existe de fato, mas isso acontece em razão de uma visão deturpada, tudo em função do desejo. O fruto proibido que a Bíblia fala. O ser vivo deseja tudo. Mas tudo pertence a Deus. O ser vivo deseja ser Deus. A origem do desejo é o fato do ser vivo negar a posição superior do Senhor e querer ele mesmo ocupar essa posição. Todos estamos brigando para sermos os senhores. Queremos tudo. Render-se ao Senhor é a única maneira de acabar com essa guerra eterna. Os devotos do Senhor não lutam entre si, eles se ajudam, uns aos outros, no caminho da devoção. Cooperação. No caminho da cooperação todos ganham, as forças se somam. No caminho da competição as forças se anulam, se destroem. Inveja e ódio contra amor e devoção. É fácil perceber qual o melhor caminho.
   O coração, endurecido pelo ódio, coberto pela contaminação de tantos desejos se torna obscuro. A pessoa assim contaminada não consegue mais distinguir o certo do errado. O resultado do caminho do cultivo dos desejos materiais é a loucura. É muito comum as pessoas desenvolverem algum tipo de demência com o tempo. Loucura. Esse é o resultado do caminho da escuridão, da ignorância, tudo fruto do desejo. Devemos seguir o caminho da bondade, o caminho da luz, da devoção, do amor divino.
   De tudo o que falamos até agora acho que podemos extrair o primeiro artigo da constituição da nossa sociedade ideal, nossa Carta Magna:

A Sociedade Ideal

Art. 1º - A sociedade ideal é aquela na qual cada indivíduo se tornou consciente de sua constituição material, constituição esta que o impele a lutar contra os outros pelo poder de saciar seus desejos. Consciente disto, cada indivíduo busca na sociedade a associação com outros indivíduos conscientes, para que assim, trabalhando sempre em cooperação, possam atingir a perfeição da vida, que é transcender a esta condição material, desenvolvendo em conjunto a devoção ao Senhor Supremo. Assim, com um ajudando o outro, cada um poderá experimentar, dentro de si, o amor puro incondicional, a Verdade Divina.


O Indivíduo Social

   Parágrafo único. Entende-se por indivíduo o conceito de indivíduo social, onde cada pessoa única é um indivíduo dentro de uma pequena sociedade e cada pequena sociedade é um indivíduo dentro de uma sociedade maior.

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