terça-feira, 17 de setembro de 2013

A luta pelo poder - parte II - A natureza e o Supremo

A luta pelo poder na natureza


   O homem deseja o poder. Numa sociedade capitalista poder significa dinheiro. Todos nós queremos ficar ricos, para assim podermos comprar tudo aquilo que precisamos, inclusive, comprar a servidão dos outros. A luta pelo poder é, na verdade, uma luta do ser humano em realizar o seu desejo de ser servido, de ser o senhor, de estar no centro das atenções. É só observarmos uma criança para vermos que esse desejo está lá, desde que nascemos. Com o tempo aprendemos a lidar com isso, a raciocinar melhor e até a esconder o nosso íntimo. Mas quando crianças nós somos transparentes e qualquer um que seja pai ou mãe, sabe que toda criança quer ser servida pelos pais, quer a todo momento a atenção para si, se considera o centro do universo.
   Essa luta pelo poder acontece o tempo todo em todo lugar, em menor e maior grau. Até mesmo entre os animais e plantas. As águas lutam pelo espaço, os rios cortam a terra, os mares moldam as praias. As chuvas caem e modificam a paisagem, inclusive arrancando pessoas de suas casas. A água e os outros elementos naturais, como o vento e o fogo, lutam pelo espaço. O domínio do espaço é uma forma de poder. Costumamos nos referir a determinadas pessoas como espaçosas, folgadas. Perceba que essa atitude em determinadas pessoas é uma forma de exercer o poder. Poder de dominar o espaço, subjugar o espaço do outro. É uma forma que algumas pessoas encontram de satisfazer o anseio íntimo que todos temos pelo poder. Na maioria das vezes esse tipo de atitude é inconsciente, mas o desejo de poder está lá, latente.
   As plantas também lutam pelo espaço, pois é através do espaço aéreo que elas têm acesso à luz e ao gás carbônico; e é através do espaço no solo que as plantas têm acesso aos nutrientes e podem fixar suas raízes garantindo assim sua sustentação. O poder sobre o espaço é também o poder sobre os recursos dentro desse espaço. Qualquer semelhança com o imperialismo não é mera coincidência. Então, enquanto os elementos básicos da natureza lutam simplesmente pelo espaço, as plantas lutam pelo espaço para obterem o poder sobre os recursos naturais. Já é uma evolução da luta pelo poder.
   Os animais também lutam pelo território. Eles defendem seu território, seu alimento, assim como as plantas, mas, além disso, os animais defendem seu rebanho, ou seja, sua família. Os animais começam a compor então as formas mais básicas de sociedade. E junto com essa sociedade animal nasce também o direito a herança. A sociedade animal luta para se impor sobre as outras para garantir aos seus herdeiros o acesso àqueles recursos. Se analisarmos as sociedades animais, fica claro que não existe luta de classes, e sim luta pelo poder. A sociedade animal é dividida geralmente da seguinte forma. O macho dominante está no topo dessa sociedade, ele venceu os outros machos e por isso obteve o direito de liderar essa sociedade e o direito de progênie. Somente o macho dominante pode fecundar as fêmeas; direito a hereditariedade. Seus filhos lutarão entre si no futuro pelo mesmo direito. Aos outros machos cabe a função de proteger o rebanho. As fêmeas cuidam dos filhotes. Não existe luta entre as diferentes classes no rebanho. Existe a luta pelo poder, pela liderança do rebanho. E existe a luta entre as diferentes sociedades animais pelo poder sobre o espaço, pelo domínio do território. Por isso eu volto a repetir, a luta de classes é uma invenção usada para dominar as massas e desviá-las de seu verdadeiro inimigo.
   Perceba que a luta pelo poder vai ficando mais complexa à medida que evoluímos dos elementos básicos da natureza até chegarmos ao homem. Mas se o homem luta pelo poder simplesmente para ter acesso aos recursos, dominar as fêmeas e os outros machos, e garantir o direito a hereditariedade, então qual a diferença entre o homem e o animal?
   Mesmo na nossa sociedade atual, onde a diferença de gênero foi abolida, inclusive com a introdução de gêneros transmorfos, a luta pelo poder pode ser resumida como uma luta animal. As pessoas lutam pelo poder, pois essa necessidade é inerente à natureza. Mas quando me refiro à natureza, nós estamos falando de natureza material. Por isso a luta pelo poder começa com os elementos básicos da natureza. A diferença entre o homem e animal é justamente a capacidade de transcender essa condição material. A única maneira de transcender essa condição material é entendendo que a meta última da vida não é a luta pelo poder, uma luta meramente material. A matéria é temporária. Que adianta lutar tanto pelo poder e no fim, tudo aquilo pelo que lutamos vira comida de vermes. Das cinzas as cinzas, do pó ao pó. Se lutamos por comida de vermes, não somos melhores que vermes então. Se vivemos como animais, lutando pelo poder tal como fazem os animais, então não deixamos nossa condição animal. Somos animais em forma humana. Não precisamos de um corpo humano para viver como animais. Toda nossa grande ciência e tecnologia, no fim, servem simplesmente para vivermos como animais sofisticados.
   Mas então qual é a meta última da vida humana? Transcender à condição animal, transcender à vida material. A luta pelo poder é intrínseca à vida material. Transcender à vida material é transcender à luta pelo poder.
   Ao admitirmos que a luta pelo poder esteja relacionada com nossa porção animal, nossa porção material, precisamos encontrar o oposto disso, o oposto da vida animal, o oposto da vida material. Ora, o oposto do poder é a submissão. Mas submissão a quê?
   É claro que essa submissão jamais poderia ser a outro ser humano, pois a capacidade de transcender a luta pelo poder e aceitar submissão é aquilo que faz o ser humano superior. Um ser humano que não tem essa capacidade não é melhor que um animal e não pode ser considerado um ser humano em sua plenitude. Então fica claro que a submissão deve ser a algo superior ao ser humano. Algo que está além da natureza material. Que é transcendental à matéria. Somente admitindo a existência do Ser Supremo é que o conceito de submissão fica claro. Devemos nos render ao Senhor Supremo.


O Supremo


   A capacidade de entender que existe um Senhor Supremo é o que difere o ser humano das outras categorias de seres vivos. O animal luta pelo domínio do território, luta para ser servido pelos outros, luta pelo prazer sexual, luta pela comida, luta para defender sua família e luta pelo direito a hereditariedade. Se o ser humano vive unicamente para isso, então ele é um animal sofisticado, conforme já expliquei. A inteligência humana serve justamente para que, raciocinando logicamente, o ser humano encontre a Verdade Absoluta, o Senhor Supremo.
   As crianças naturalmente acreditam em Deus. Todos os povos, em todas as épocas sempre acreditaram numa Força Superior, de uma forma ou de outra. O ateísmo sempre foi defendido por determinados grupo que não aceitam a submissão a algo superior, ou ainda, por grupos que queriam tirar o poder de instituições religiosas, como a Igreja Católica. Mas a devoção em Deus nada tem a ver com instituições religiosas. Se a religião é usada para dominar as massas então a religião é uma forma de poder e quem domina a instituição religiosa domina o povo, desse modo, a instituição religiosa é na verdade uma instituição política, com o objetivo de dominar a sociedade. O Senhor Krishna diz no Bhagavad-Gita (Cap. 18 verso 66):
"Abandone todas as variedades de religião e simplesmente renda-se a Mim. Eu o libertarei de todas as reações pecaminosas. Não tema."
   Só para esclarecer, O Senhor Krishna é aceito por autoridades como sendo o Senhor Supremo. Deus tem infinitas formas e infinitos nomes. Tudo emana dele, então é claro que tudo está contido nele. Os diferentes nomes e diferentes formas do Senhor existem de acordo com as diferentes pessoas que se relacionam com Ele. Por exemplo, o presidente da república. Algumas pessoas se aproximam dele com todo respeito e tratam-no como V.Sª Excelência, V.Sª Senhoria, etc. Para sua esposa ele é seu marido e ela o chama de amor, de bem. Seus filhos o chamam de pai e pulam em cima dele, brincam com ele. Para alguns amigos de infância ele pode ter algum apelido, como gordo, ou alemão, etc. Em cada situação o presidente é tratado de uma maneira diferente. Ele também se veste de maneira diferente. Portanto, em lugares diferentes, a mesma pessoa aparece de formas diferentes e é tratada de maneiras diferentes, apesar de ser uma só. Assim é Deus. Assim como o presidente tem seus ministros e assessores, Deus também tem os deuses (em minúsculo), também chamados de semideuses, para cuidar da criação, mas Deus é um só. Diferentes religiões o chamam por diferentes nomes e o tratam de diferentes maneiras, mas Ele é um só, apesar de poder se expandir em infinitas porções.
   As religiões ajudam as pessoas a aproximar-se do Senhor, mas quando as pessoas avançam espiritualmente, a religião costuma atrapalhar, pois o amor verdadeiro é o amor incondicional. Como amar incondicionalmente se eu preciso me submeter a um monte de regras? Regras são condicionantes. As regras religiosas, independente da religião, servem para manter o devoto neófito afastado dos perigos da vida material, dos vícios, e assim ele consegue experimentar um prazer superior, a felicidade transcendental. A felicidade transcendental vem do amor verdadeiro, amor puro. O amante é totalmente submisso ao amado. A verdadeira felicidade é a que obtemos quando conseguimos desenvolver uma relação amorosa com o Senhor. Amai a Deus. A felicidade obtida com a luta pelo poder é temporária e temerária, pois a todo instante nossa felicidade está sendo ameaçada. Precisamos defender a todo custo nossas posses. Precisamos trabalhar arduamente por comida, por sexo, para proteger nossos filhos e nossa herança. Nossa felicidade material está sempre correndo perigo, é uma falsa felicidade, pois gera ansiedade, gera medo. O devoto do Senhor nada teme, pois sabe que tudo emana do Senhor. Essa é a felicidade verdadeira. O devoto do Senhor é o melhor amigo de todos, pois sabe que tudo e todos emanam do Senhor, e se ele ama o Senhor, ele também ama tudo que emana dEle. Amai a Deus e ao seu semelhante. Fica claro então que a meta última da vida é servir ao Senhor e a melhor sociedade é aquele na qual as pessoas são devotas do Senhor, pois assim elas são verdadeiramente felizes e são verdadeiramente boas para com as outras. A primeira revolução que devemos fazer é a revolução interna de cada um. A revolução da consciência.
   No próximo texto vou aprofundar mais a discussão em torno dessa sociedade.

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