quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Caminho do Desejo x Caminho da Devoção

Caminho do Desejo x Caminho da Devoção


   Até aqui nós já concluímos que a sociedade ideal é aquela na qual as pessoas são devotadas ao Senhor Supremo. Então, tudo depende de uma revolução na consciência das pessoas. Esse é o primeiro passo. Para mudar o mundo, devemos primeiro, mudar a nós mesmos. Não é uma mudança fácil, pois a luta pelo poder é algo intrínseco à matéria, conforme já vimos. A luta pelo poder é o resultado do desejo. O desejo é o que move a matéria, é o que move o mundo e, portanto, é o que define e molda tudo nesse mundo. Quando eu digo que a história das sociedades é a história da luta pelo poder, estou dizendo que a história das sociedades é a história do desejo. Na verdade, não só das sociedades, mas de todo o Universo, pois toda a matéria é movida pelo desejo. O desejo é o que molda o universo material.
   Nos planos elementares da matéria, nas plantas e nos animais, isso é algo natural. Essa é a natureza. Mas a espécie humana foi dotada de inteligência superior justamente para transcender a essa natureza material. Pois o desejo gera a ansiedade. A ansiedade de se alcançar os objetos do desejo. Mas nem sempre conseguimos alcançar esses objetos, pois estamos em constante competição uns com os outros. Então, da ansiedade vem a frustração. Estamos o tempo todo experimentando ansiedade e frustração. O resultado disso é estresse e depressão, considerados como o mal do século, pois vivemos numa sociedade que prega a competição e o consumo, ou seja, uma sociedade que alimenta o desejo das pessoas, que faz com que as pessoas briguem entre si por esses desejos. O resultado disso é estresse e depressão.
   Da frustração vem a inveja. A pessoa percebe que não consegue saciar seus desejos, o que é impossível, pois a partir do momento que você realiza um desejo, vem outro, e depois outros. A função dos nossos sentidos é sentir. A mente é o processador dos sentidos. Os sentidos sempre vão procurar seus objetos. A saciedade dos sentidos é momentânea, por mais que você experimente algo maravilhoso, você sempre vai querer mais, pois tão logo o sentido cessa o contato com seu objeto sensorial, logo ele precisa de um novo objeto para sentir. Então, a mente nunca fica satisfeita. Até mesmo quando estamos inconscientes nossa mente está desejando. É impossível saciar a mente. Algumas correntes filosóficas ensinam que a pessoa deve tentar esvaziar a mente. Mas esse é um esforço praticamente impossível. Como anular a mente? Como querer que o fogo não queime, ou que a água não seja molhada? A função da mente é pensar, desejar e sentir. Ela faz isso o tempo todo. Lutar contra isso é muito difícil. Por isso devemos manter nossa mente focada no Senhor Supremo. Devemos fixar nossos sentidos em objetos sensoriais que nos remetam ao Senhor Supremo. Devemos ocupar nossa mente com o Senhor Supremo, e assim, experimentar o gosto superior, mantê-la ocupada com algo superior. O Senhor está disponível para todos, e assim, não há como a mente não estar em constante contato com seus objetos sensoriais. Mas do contrário, da frustração vem a inveja.
   Como nossa mente nunca está satisfeita, e como não conseguimos alcançar os objetos desejados, passamos a invejar os outros. A grama do vizinho é sempre mais verde. Todas as pessoas são iguais, todas as pessoas desejam e todas as pessoas são frustradas, mas invejamos os outros. O invejoso não percebe isso. Ele só consegue enxergar seus objetos de desejo no outro, e ele o inveja por isso. Da inveja vem o ódio. O invejoso passa a odiar o outro, pois ele atribui a sua frustração ao suposto sucesso do outro. Aí está a origem da falsa percepção de Karl Marx na sua concepção de luta de classes. Admitir isso é admitir uma sociedade invejosa e cheia de ódio. Essa sociedade existe de fato, mas isso acontece em razão de uma visão deturpada, tudo em função do desejo. O fruto proibido que a Bíblia fala. O ser vivo deseja tudo. Mas tudo pertence a Deus. O ser vivo deseja ser Deus. A origem do desejo é o fato do ser vivo negar a posição superior do Senhor e querer ele mesmo ocupar essa posição. Todos estamos brigando para sermos os senhores. Queremos tudo. Render-se ao Senhor é a única maneira de acabar com essa guerra eterna. Os devotos do Senhor não lutam entre si, eles se ajudam, uns aos outros, no caminho da devoção. Cooperação. No caminho da cooperação todos ganham, as forças se somam. No caminho da competição as forças se anulam, se destroem. Inveja e ódio contra amor e devoção. É fácil perceber qual o melhor caminho.
   O coração, endurecido pelo ódio, coberto pela contaminação de tantos desejos se torna obscuro. A pessoa assim contaminada não consegue mais distinguir o certo do errado. O resultado do caminho do cultivo dos desejos materiais é a loucura. É muito comum as pessoas desenvolverem algum tipo de demência com o tempo. Loucura. Esse é o resultado do caminho da escuridão, da ignorância, tudo fruto do desejo. Devemos seguir o caminho da bondade, o caminho da luz, da devoção, do amor divino.
   De tudo o que falamos até agora acho que podemos extrair o primeiro artigo da constituição da nossa sociedade ideal, nossa Carta Magna:

A Sociedade Ideal

Art. 1º - A sociedade ideal é aquela na qual cada indivíduo se tornou consciente de sua constituição material, constituição esta que o impele a lutar contra os outros pelo poder de saciar seus desejos. Consciente disto, cada indivíduo busca na sociedade a associação com outros indivíduos conscientes, para que assim, trabalhando sempre em cooperação, possam atingir a perfeição da vida, que é transcender a esta condição material, desenvolvendo em conjunto a devoção ao Senhor Supremo. Assim, com um ajudando o outro, cada um poderá experimentar, dentro de si, o amor puro incondicional, a Verdade Divina.


O Indivíduo Social

   Parágrafo único. Entende-se por indivíduo o conceito de indivíduo social, onde cada pessoa única é um indivíduo dentro de uma pequena sociedade e cada pequena sociedade é um indivíduo dentro de uma sociedade maior.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A luta pelo poder - parte II - A natureza e o Supremo

A luta pelo poder na natureza


   O homem deseja o poder. Numa sociedade capitalista poder significa dinheiro. Todos nós queremos ficar ricos, para assim podermos comprar tudo aquilo que precisamos, inclusive, comprar a servidão dos outros. A luta pelo poder é, na verdade, uma luta do ser humano em realizar o seu desejo de ser servido, de ser o senhor, de estar no centro das atenções. É só observarmos uma criança para vermos que esse desejo está lá, desde que nascemos. Com o tempo aprendemos a lidar com isso, a raciocinar melhor e até a esconder o nosso íntimo. Mas quando crianças nós somos transparentes e qualquer um que seja pai ou mãe, sabe que toda criança quer ser servida pelos pais, quer a todo momento a atenção para si, se considera o centro do universo.
   Essa luta pelo poder acontece o tempo todo em todo lugar, em menor e maior grau. Até mesmo entre os animais e plantas. As águas lutam pelo espaço, os rios cortam a terra, os mares moldam as praias. As chuvas caem e modificam a paisagem, inclusive arrancando pessoas de suas casas. A água e os outros elementos naturais, como o vento e o fogo, lutam pelo espaço. O domínio do espaço é uma forma de poder. Costumamos nos referir a determinadas pessoas como espaçosas, folgadas. Perceba que essa atitude em determinadas pessoas é uma forma de exercer o poder. Poder de dominar o espaço, subjugar o espaço do outro. É uma forma que algumas pessoas encontram de satisfazer o anseio íntimo que todos temos pelo poder. Na maioria das vezes esse tipo de atitude é inconsciente, mas o desejo de poder está lá, latente.
   As plantas também lutam pelo espaço, pois é através do espaço aéreo que elas têm acesso à luz e ao gás carbônico; e é através do espaço no solo que as plantas têm acesso aos nutrientes e podem fixar suas raízes garantindo assim sua sustentação. O poder sobre o espaço é também o poder sobre os recursos dentro desse espaço. Qualquer semelhança com o imperialismo não é mera coincidência. Então, enquanto os elementos básicos da natureza lutam simplesmente pelo espaço, as plantas lutam pelo espaço para obterem o poder sobre os recursos naturais. Já é uma evolução da luta pelo poder.
   Os animais também lutam pelo território. Eles defendem seu território, seu alimento, assim como as plantas, mas, além disso, os animais defendem seu rebanho, ou seja, sua família. Os animais começam a compor então as formas mais básicas de sociedade. E junto com essa sociedade animal nasce também o direito a herança. A sociedade animal luta para se impor sobre as outras para garantir aos seus herdeiros o acesso àqueles recursos. Se analisarmos as sociedades animais, fica claro que não existe luta de classes, e sim luta pelo poder. A sociedade animal é dividida geralmente da seguinte forma. O macho dominante está no topo dessa sociedade, ele venceu os outros machos e por isso obteve o direito de liderar essa sociedade e o direito de progênie. Somente o macho dominante pode fecundar as fêmeas; direito a hereditariedade. Seus filhos lutarão entre si no futuro pelo mesmo direito. Aos outros machos cabe a função de proteger o rebanho. As fêmeas cuidam dos filhotes. Não existe luta entre as diferentes classes no rebanho. Existe a luta pelo poder, pela liderança do rebanho. E existe a luta entre as diferentes sociedades animais pelo poder sobre o espaço, pelo domínio do território. Por isso eu volto a repetir, a luta de classes é uma invenção usada para dominar as massas e desviá-las de seu verdadeiro inimigo.
   Perceba que a luta pelo poder vai ficando mais complexa à medida que evoluímos dos elementos básicos da natureza até chegarmos ao homem. Mas se o homem luta pelo poder simplesmente para ter acesso aos recursos, dominar as fêmeas e os outros machos, e garantir o direito a hereditariedade, então qual a diferença entre o homem e o animal?
   Mesmo na nossa sociedade atual, onde a diferença de gênero foi abolida, inclusive com a introdução de gêneros transmorfos, a luta pelo poder pode ser resumida como uma luta animal. As pessoas lutam pelo poder, pois essa necessidade é inerente à natureza. Mas quando me refiro à natureza, nós estamos falando de natureza material. Por isso a luta pelo poder começa com os elementos básicos da natureza. A diferença entre o homem e animal é justamente a capacidade de transcender essa condição material. A única maneira de transcender essa condição material é entendendo que a meta última da vida não é a luta pelo poder, uma luta meramente material. A matéria é temporária. Que adianta lutar tanto pelo poder e no fim, tudo aquilo pelo que lutamos vira comida de vermes. Das cinzas as cinzas, do pó ao pó. Se lutamos por comida de vermes, não somos melhores que vermes então. Se vivemos como animais, lutando pelo poder tal como fazem os animais, então não deixamos nossa condição animal. Somos animais em forma humana. Não precisamos de um corpo humano para viver como animais. Toda nossa grande ciência e tecnologia, no fim, servem simplesmente para vivermos como animais sofisticados.
   Mas então qual é a meta última da vida humana? Transcender à condição animal, transcender à vida material. A luta pelo poder é intrínseca à vida material. Transcender à vida material é transcender à luta pelo poder.
   Ao admitirmos que a luta pelo poder esteja relacionada com nossa porção animal, nossa porção material, precisamos encontrar o oposto disso, o oposto da vida animal, o oposto da vida material. Ora, o oposto do poder é a submissão. Mas submissão a quê?
   É claro que essa submissão jamais poderia ser a outro ser humano, pois a capacidade de transcender a luta pelo poder e aceitar submissão é aquilo que faz o ser humano superior. Um ser humano que não tem essa capacidade não é melhor que um animal e não pode ser considerado um ser humano em sua plenitude. Então fica claro que a submissão deve ser a algo superior ao ser humano. Algo que está além da natureza material. Que é transcendental à matéria. Somente admitindo a existência do Ser Supremo é que o conceito de submissão fica claro. Devemos nos render ao Senhor Supremo.


O Supremo


   A capacidade de entender que existe um Senhor Supremo é o que difere o ser humano das outras categorias de seres vivos. O animal luta pelo domínio do território, luta para ser servido pelos outros, luta pelo prazer sexual, luta pela comida, luta para defender sua família e luta pelo direito a hereditariedade. Se o ser humano vive unicamente para isso, então ele é um animal sofisticado, conforme já expliquei. A inteligência humana serve justamente para que, raciocinando logicamente, o ser humano encontre a Verdade Absoluta, o Senhor Supremo.
   As crianças naturalmente acreditam em Deus. Todos os povos, em todas as épocas sempre acreditaram numa Força Superior, de uma forma ou de outra. O ateísmo sempre foi defendido por determinados grupo que não aceitam a submissão a algo superior, ou ainda, por grupos que queriam tirar o poder de instituições religiosas, como a Igreja Católica. Mas a devoção em Deus nada tem a ver com instituições religiosas. Se a religião é usada para dominar as massas então a religião é uma forma de poder e quem domina a instituição religiosa domina o povo, desse modo, a instituição religiosa é na verdade uma instituição política, com o objetivo de dominar a sociedade. O Senhor Krishna diz no Bhagavad-Gita (Cap. 18 verso 66):
"Abandone todas as variedades de religião e simplesmente renda-se a Mim. Eu o libertarei de todas as reações pecaminosas. Não tema."
   Só para esclarecer, O Senhor Krishna é aceito por autoridades como sendo o Senhor Supremo. Deus tem infinitas formas e infinitos nomes. Tudo emana dele, então é claro que tudo está contido nele. Os diferentes nomes e diferentes formas do Senhor existem de acordo com as diferentes pessoas que se relacionam com Ele. Por exemplo, o presidente da república. Algumas pessoas se aproximam dele com todo respeito e tratam-no como V.Sª Excelência, V.Sª Senhoria, etc. Para sua esposa ele é seu marido e ela o chama de amor, de bem. Seus filhos o chamam de pai e pulam em cima dele, brincam com ele. Para alguns amigos de infância ele pode ter algum apelido, como gordo, ou alemão, etc. Em cada situação o presidente é tratado de uma maneira diferente. Ele também se veste de maneira diferente. Portanto, em lugares diferentes, a mesma pessoa aparece de formas diferentes e é tratada de maneiras diferentes, apesar de ser uma só. Assim é Deus. Assim como o presidente tem seus ministros e assessores, Deus também tem os deuses (em minúsculo), também chamados de semideuses, para cuidar da criação, mas Deus é um só. Diferentes religiões o chamam por diferentes nomes e o tratam de diferentes maneiras, mas Ele é um só, apesar de poder se expandir em infinitas porções.
   As religiões ajudam as pessoas a aproximar-se do Senhor, mas quando as pessoas avançam espiritualmente, a religião costuma atrapalhar, pois o amor verdadeiro é o amor incondicional. Como amar incondicionalmente se eu preciso me submeter a um monte de regras? Regras são condicionantes. As regras religiosas, independente da religião, servem para manter o devoto neófito afastado dos perigos da vida material, dos vícios, e assim ele consegue experimentar um prazer superior, a felicidade transcendental. A felicidade transcendental vem do amor verdadeiro, amor puro. O amante é totalmente submisso ao amado. A verdadeira felicidade é a que obtemos quando conseguimos desenvolver uma relação amorosa com o Senhor. Amai a Deus. A felicidade obtida com a luta pelo poder é temporária e temerária, pois a todo instante nossa felicidade está sendo ameaçada. Precisamos defender a todo custo nossas posses. Precisamos trabalhar arduamente por comida, por sexo, para proteger nossos filhos e nossa herança. Nossa felicidade material está sempre correndo perigo, é uma falsa felicidade, pois gera ansiedade, gera medo. O devoto do Senhor nada teme, pois sabe que tudo emana do Senhor. Essa é a felicidade verdadeira. O devoto do Senhor é o melhor amigo de todos, pois sabe que tudo e todos emanam do Senhor, e se ele ama o Senhor, ele também ama tudo que emana dEle. Amai a Deus e ao seu semelhante. Fica claro então que a meta última da vida é servir ao Senhor e a melhor sociedade é aquele na qual as pessoas são devotas do Senhor, pois assim elas são verdadeiramente felizes e são verdadeiramente boas para com as outras. A primeira revolução que devemos fazer é a revolução interna de cada um. A revolução da consciência.
   No próximo texto vou aprofundar mais a discussão em torno dessa sociedade.

domingo, 8 de setembro de 2013

A Luta pelo Poder - parte I - conceito


A Luta pelo Poder


   Marx afirmava que a história de todas as sociedades era a história das lutas de classes (Manifesto do Partido Comunista - Marx e Engels, edição de 1872). Estava errado e vou explicar.
   Por séculos a filosofia e o pensamento científico têm servido diferentes interesses. Não que as ideias do pensador não fossem algo realizado por ele mesmo, e não algo inventado com um propósito de dominação, embora acredito eu que até tenha sido esse o caso algumas vezes; mas ao surgir alguém, um pensador, defendendo determinado ponto de vista que interesse a um determinado grupo, então, esse grupo passa a financiar esse pensador e a divulgar suas ideias. A maioria dos pensadores teve uma visão míope da sociedade, e o tempo mostrou isso, com correntes contrárias de pensadores surgindo geração após geração. A cada nova geração, as ideias defendidas pela geração anterior eram dissecadas e criticadas e, expostas à luz do conhecimento e dos fatos, eram provadas insuficientes, incabíveis ou ainda irreais. O próprio Marx é constantemente corrigido pelos seus discípulos, entre os quais destacam-se aqueles pertencentes à Escola de Frankfurt, mas o curioso é que eles em nenhum momento descartam Marx, porque suas teorias ainda servem aos interesses de grupos com grande poder econômico e com grande sede de poder.
   Basta analisar a história para ver que a história da sociedade tem sido a história da luta pelo poder. Conforme eu já expus nos textos anteriores, as lutas, as revoluções, as guerras, elas sempre foram mobilizadas em favor de determinado grupo que queria o poder. As massas são manipuladas a apoiar esse grupo, mas o povo nunca está no poder, isso é antagônico, o povo sempre será povo, e quando faz parte do poder deixa de ser povo para ser o poder. Todas as revoluções sociais e guerras civis nada mais foram do que a luta de determinados grupos pelo poder de uma nação. E todas as guerras nada mais foram do que a luta entre duas ou mais nações pelo poder. Isso sempre existiu, desde a Roma Antiga, até hoje. Só que hoje a guerra é muito mais ideológica e cultural do que bélica, conforme já apresentei em outros textos.
   Marx, então, usa o pretexto de luta de classes, para mobilizar a grande massa, o proletariado, em prol de uma luta que em nada irá favorecer esse proletariado; conforme o tempo nos mostrou com as revoluções comunistas na Rússia, China, Cuba, etc. Na verdade, a situação do povo nesses países em alguns aspectos até piorou, ou no máximo, ficou como estava, na pobreza. Qual o interesse de Marx em provocar o proletariado. Talvez estivesse ele interessado no poder, talvez não, mas com certeza ele queria provocar a revolução comunista, o que era contrário ao que ele próprio preconizava, pois ele mesmo previu que a revolução do proletariado aconteceria naturalmente com a evolução da sociedade burguesa. Toda a literatura de Marx, e de muitos filósofos especuladores é assim, contraditória. Esse tipo de filosofia se tornou célebre na Grécia Antiga como Escola Sofista. A Escola Sofista dizia que a filosofia não devia buscar uma Verdade Absoluta, mas sim, que a filosofia tinha o poder de persuasão, ou seja, defender qualquer opinião, sendo ela verdadeira ou não. O bom filósofo deveria dominar a arte da retórica, da argumentação, para persuadir e enganar. É a arte da enganação, e é sobre essa filosofia que nossa ciência moderna se construiu. Daí os antagonismos dentro dos argumentos defendidos pelo mesmo pensador. Outro dia vi uma frase numa rede social que exprime bem isso: "O objetivo da guerra é a paz." Ora, nada mais falso do que isso. É claro que esse é o tipo de frase usada para mobilizar um povo à luta, sobre o pretexto de se obter a paz. Mas é lógico que a paz é o oposto da guerra, e uma termina quando começa a outra. É como dizer que o objetivo do ódio é o amor, e o da escuridão é a luz. Conforme já foi dito, o objetivo de todas as guerras é o poder. Na revolução francesa a burguesia queria o poder que estava nas mãos da aristocracia. Nas guerras imperialistas uma nação guerreava com a outra para obter o poder sobre as terras e os povos. Nas guerras de independência um grupo local luta pelo poder contra o colonizador, mas o povo se livra de um dominador estrangeiro e ganha outro dominador local. Os animais lutam pelo poder sobre o território, comida e linhagem (procriação, lutando pelas fêmeas do rebanho). Então, nossas sociedades sempre foram moldadas pelas lutas pelo poder.
   O povo sempre é mobilizado em favor daqueles que querem o poder, mas o povo sempre está na condição de povo, pois conforme eu já expliquei, ao assumir o poder, deixa de ser povo. Mesmo que vencendo a guerra determinado povo experimente certa melhoria na sua qualidade de vida, essa melhoria só foi possível devido à derrota de outro povo, ou seja, a situação de um povo melhorou porque a de outro piorou, então, na verdade, o que temos é que uma sociedade está explorando a outra. Repare que não há a luta de classes, e sim, a exploração por parte de um indivíduo sobre o outro. Uma nação pode ser comparada a um indivíduo no âmbito global, conforme já expus o conceito de indivíduo social. Por isso que defendo que a verdadeira revolução social é aquela que passa pelo mundo todo, mas na verdade, essa revolução só é verdadeira quando cada um de nós mudarmos nossa maneira animal de pensar. Enquanto estivermos lutando pelo poder, a sociedade sempre será desigual, sempre haverá exploradores e explorados. Parece que estou defendendo o conceito de anarquia, mas não, o que estou defendendo é o fim do anseio pelo poder, ou ao menos, desenhar uma sociedade em que fique impossível que um grupo domine outro. Esse é o verdadeiro conceito de igualdade. Por mais que existam as diferenças, não poderá jamais existir a exploração, a dominação, em outras palavras, a escravidão sobre qualquer forma.
   No próximo texto vamos procurar as causas dessa luta pelo poder para podermos entender melhor esse fenômeno e assim tentarmos construir uma sociedade onde essa luta não exista, uma sociedade verdadeiramente livre e igual.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Qual é a sociedade que queremos?

Qual é a sociedade que queremos?


 Precisamos encontrar a resposta para esta pergunta, pois só assim nossas reivindicações, manifestações e, porque não, revoluções, poderão trazer verdadeiro benefício para nós. Mas o que é a sociedade senão um grupo de pessoas. A sociedade ideal é aquela que é ideal para as pessoas que vivem nela. Para saber qual a sociedade que queremos, precisamos entender o que nós queremos. Antes de imaginar como será essa sociedade, precisamos descobrir o que a menor célula da sociedade, o indivíduo, precisa. Qual é o papel desse indivíduo na sociedade? Quais seus deveres para com ela? O quê ele recebe em troca, seus direitos, nessa sociedade?
 A sociedade só é verdadeiramente boa se for boa para todas as pessoas. Uma sociedade em conflito não pode ser uma sociedade boa. Por mais que haja diferenças, quando elas se transformam em conflitos então alguma coisa não vai bem nessa sociedade. Defender a luta de classes é semear o ódio, o conflito e o caos. Precisamos sempre nos perguntar: quem ganha com isso? Não que tenhamos que aceitar pacificamente nossa exploração e espoliação, mas devemos encontrar o equilíbrio entre as diferenças, porque as pessoas não são, e jamais serão iguais, isso é justiça verdadeira, igualdade.
  Passemos então a analisar o indivíduo dentro da sociedade.

O indivíduo social


 O indivíduo é fruto da sociedade que o gerou, desde pequeno ele vai aprendendo os costumes, a língua, a cultura daquela sociedade na qual ele nasceu. Porém, vivemos hoje num mundo globalizado, onde a educação é globalizada, a mídia é globalizada, ou seja, a cultura é globalizada. Claro que os traços locais sempre vão existir, mas de um modo geral vivemos num mundo globalizado. Globalizado pelas potências mundiais, ou seja, por mais que se negue isso, ainda vivemos dentro da lógica colonialista, imperialista. Devemos admitir o intercâmbio de culturas, a globalização igual, agora, o que estamos vivendo, é uma invasão cultural, imperialismo cultural, e não se enganem achando que é só os EUA que nos dominam. Hoje vemos uma corrente socialista se espalhar pela América Latina, fruto de intensa propaganda comunista no século XX. Somos dominados tanto por um, quanto por outro. Tanto que não conseguimos imaginar uma outra lógica, um mundo que não seja nem capitalista e nem comunista/socialista, mas perceba que nenhuma dessas correntes está sinceramente preocupada com o indivíduo. Uma defende a luta de classes disfarçadamente através da competição, do falso mérito, onde todos podem enriquecer. Claro que isto é falso, pois o rico tem uma vantagem enorme nessa competição. A outra defende abertamente a luta de classes, na verdade quer forçosamente abolir as classes e instituir a igualdade, mas não é o princípio da igualdade real, é uma igualdade forçada, e como forçar isso senão através de uma ditadura, então, admitindo-se que haja um governo para forçar essa igualdade, essa igualdade jamais existirá, pois haverá a classe dominante (o governo) e a classe dominada (o povo), por isso, o discurso comunista é tão falso quanto o discurso capitalista.
 Precisamos então romper um pouco nossa barreira cultural, além do mais, uma sociedade sem conflitos só será verdadeira se for uma sociedade mundial. Não que deva haver um governo no mundo todo, até porque esse é o plano tanto dos capitalistas quanto dos comunistas, mas enquanto houver dominadores e dominados, desenvolvidos e explorados, então não haverá igualdade verdadeira. A exploração acontece dentro de cada sociedade e entre as sociedades, dentro da sociedade global, onde cada sociedade menor, cada país, exerce o papel de indivíduo, o indivíduo social. Para entender melhor esse raciocínio suponhamos que o Brasil alcance essa "sociedade ideal", ela jamais seria ideal se continuássemos negociando com outros países que ainda não atingiram esse patamar, pois estaríamos movimentando a roda da desigualdade. Alimentando aquelas economias estaríamos fazendo girar a roda da desigualdade e da exploração desses outros países, então ao invés de termos nos tornado uma sociedade ideal, simplesmente passamos de explorados para exploradores, dentro da grande sociedade global. Então, ao pensarmos no indivíduo, devemos pensar no indivíduo independente de sua cultura, pois na essência somos todos iguais, o que nos diferencia é justamente a cultura, e a personalidade, sendo que a cultura pode ser considerada uma personalidade coletiva.
 Só para reforçar o conceito, indivíduo social pode se referir à pessoa física propriamente dita ou a uma pequena sociedade dentro de uma sociedade maior. Por exemplo, uma cidade é um indivíduo social quando temos como base a nação.
 No próximo texto vamos começar a tentar definir o papel desse indivíduo dentro da sociedade, quais suas necessidades e seus deveres.